Conversation
Notices
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É assustadora a semelhança entre a análise de Bakunin a respeito do comportamento dos Estados, em "Estatismo e anarquia", e aquela que faz Mearsheimer em "A tragédia da política das grandes potências", com a diferença de que o primeiro combate este mesmo comportamento, enquanto que o segundo o promove. !realpolitik
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Conceitos como "delegação" e "balanceamento", bem como a "anarquia" do sistema (na visão de Mearsheimer) e o próprio "dilema da segurança", aparecem implicitamente (e até de maneira explícita) nas análises políticas de Bakunin, embora não de maneira sistematizada.
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Outro ponto interessante é a semelhança entre a análise de Bakunin a respeito da libertação eslava e a situação atual curda, pré-confederalismo, que aparece no trecho "No conociendo, gracias a su educación alemana, otro medio de liberación más que por intermedio de la fundación de Estados eslavos o de un solo Estado poderoso de los eslavos, se proponen un objetivo puramente alemán". Os curdos também se propunham a estabelecer um Estado curdo até a mudança de perspectiva que levou à busca de uma organização confederada, com democracia de base, embora no Iraque, sob o KRG, a lógica siga sendo a mesma.
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Já a perspectiva de que a "descentralização" eslava os enfraquecia diante do invasor externo, que aparece em "con tal organización, los eslavos habían quedado sin defensa contra las invasiones y las conquistas", encontra eco no estudo de Fredrik Barth, como no trecho "aunque el tribalismo cuenta con la mayor adhesión en muchas zonas [...], los grupos resultantes parecen todavía incapacitados para enfrentarse al aparato sancionante de una organización estatal relativamente rudimentaria."
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No tocante a tendência militarista do Estado alemão, acho que é possível uma aproximação entre Bauman ("Modernidade e holocausto") e Gerschenkron ("O atraso econômico"), onde o segundo aborda os processos históricos de construção do capitalismo alemão e o primeiro dá ênfase ao peso da estrutura burocrática na "despersonalização" da crueldade nazista, além de fazer um diálogo com os trabalhos de Stanley Milgram.
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Outra aproximação que se pode fazer, para integrar em uma mesma análise a situação atual curda, as correntes históricas do anarquismo e a tendência, aparentemente paradoxal, da democracia representativa até viéses não-democráticos, é o diálogo com Robert Michels e sua "lei de ferro da oligarquia" ("Quien dice organización, dice oligarquía"), mas sua obra seminal ("Os partidos políticos) ainda está na minha lista de leituras...
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A leitura da análise de Bakunin a respeito das aspirações territoriais do Estado alemão, no final do século XIX, me fez lembrar a de Brzezinski em "Game Plan", sobre o expansionismo russo na Eurásia. Nesse contexto, Bakunin levanta a possibilidade de que o acesso a uma saída marítima seja essencial para se evitar um perigoso isolamento involuntário. Na visão do autor anarquista, quando o mundo for composto de "federações", estas importantes saídas serão de acesso livre e irrestrito, abertas à todas as sociedades. A despeito de possíveis contradições em seu argumento (se o mundo é composto de federações, haveria "isolamento" por terra?), fica a questão para os curdos de Rojava: não é preciso uma saída para o mar?